terça-feira, 25 de setembro de 2012

A Varanda das Meninas



A varanda das meninas

No beijo que me deste em despedida
Ficou parte do teu tempo concentrado
Uma parte da tua alma e da tua vida
Trouxe ao presente a luz do passado

Quando havia uma varanda de meninas
A olhar para os mascarados no passeio
Depois a atirar centenas de serpentinas
Que ligavam a casa às arvores do meio

Esse mesmo meio onde já só há asfalto
E os fumos dum trânsito feio e doentio
Onde uma sirene me põe em sobressalto
E onde chega o nevoeiro que vem do rio

Este encontro foi breve porque a rotina
Te chamava para as tarefas do dia-a-dia
Foi no beijo que voltaste a ser menina
E a Morais Soares foi a Rua da Alegria

José do Carmo Francisco   

(Óleo é de Marta Shmatava)          

domingo, 2 de setembro de 2012

Balada do Cais das Colunas



Balada do Cais das Colunas

Cais das Colunas, janela
Do Tejo, do Mar da Palha
Registas um barco à vela
Que noite e dia trabalha

Bote, batel ou canoa
Bateira, falua, enviada
Traz o peixe de Lisboa
No preço de quase nada

Varino, muleta, fragata
Cangueiro, proa redonda
Catraio onde a serenata
Não tem voz que responda

E a palha que deu nome
Ao mapa deste estuário
Pode ser sinal de fome
Num lugar ao contrário

Da Chamusca, alagados
Os campos sem animais
Sobe a água nos valados
Há notícias nos jornais

Mistério, o Tejo amplia
Em homens e cacilheiros
E na faina do dia a dia
Os sonhos são verdadeiros

E povoam todo o luar
Da noite do que persiste
As horas de trabalhar
Não dão para ser triste

Inscrevem-se na paisagem
Nos barcos, mercadoria
Ligam uma, outra margem
Na mais teimosa alegria

José do Carmo Francisco

(Foto de Luís Milheiro)