segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Poema periférico para o homem do chá


Poema periférico para o homem do chá

O médico conhecido e o escritor obscuro
Bebem chávenas de chá verde na esplanada
E quem as prepara é um homem triste.
Entre cães activos e telemóveis desligados
A tosse, os charutos e as outras coisas más 
A tarde declina nas duas chávenas de chá.
A caminho do comboio já bem de noite
Ninguém pode reparar naquelas lágrimas
Misturadas com estas folhas castanhas.
Com uma filha no outro lado do Mundo
E outra apenas a duas horas de avião
Como eu compreendo o homem do chá.
Mesmo sem saber sequer seu nome
Sinto o homem do chá como um irmão
Na saudade húmida da filha distante.
Só o vento a arrastar folhas no passeio
Me parece neutral neste Outono frio
Em que os sentimentos tomam partido.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)

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